Organização do trabalho nas empresas brasileiras No caso do Brasil, a organização do trabalho nos sistemas de produção segui um padrão tradicional para países sb-desenvolvidos no qual a mão-de-obra abundante, desqualificada e barata não motivava nenhum esforço de melhor utilização. Os
estudos pioneiros sobre organização na moderna indústria brasileira
nos falam de trabalhadores de origem rural, que vieram tentar a sorte na
cidade grande e na grande indústria, com a idéia de, a curto prazo, fazer seu pé-de-meia,
para então voltar para o interior
e comprar sua terra. Ou seja, o processo começa com uma mão-de-obra
que pouco ou nada conhece de indústria e de produção, cuja experiência
é o trabalho no campo, e que se posiciona como se estivesse passando
temporariamente pelas empresas industriais. Até
o final da década de 1980, o que ocorria em termos de organização do
trabalho na produção era consistente com as demais características
dos empreendimentos locais : ·
Produção
com baixo requisitos de qualidade ; ·
Custos
de produtos em geral projetados no exterior ; ·
Utilização
de processos adaptados para
as condições locais ; ·
Utilização
da mão-de-obra local ; Em
estudo realizado em 1997, junto a 44 empresas de diferentes setores
industriais, procuramos identificar qual era o padrão de organização
do trabalho adotado por essas empresas. As informações obtidas
apresentavam um padrão comum de organização de trabalho, uma adaptação
do modelo taylorista, que denominarei Rotinização
do Trabalho. Isso significa em outras palavras : ·
A
criação de uma estrutura organizacional de apoio à produção, que
permita que os cargos no
setor de produção sejam estruturados até o ponto em que seja possível
a utilização de mão-de-obra desprovida de conhecimentos sobre o
produto. ·
O
estabelecimento de tarefas simples e individualizadas, que permita a
substituição temporária (
absentismo ) ou permanente ( rotativa ) dos operários. ·
Na
criação de complexos sistemas hierárquicos de supervisão para
eliminar a necessidade de
contatos entre os operários durante a operação do processo produtivo. Assim,
o esquema de Rotinização parte de uma imagem de mão-de-obra não
qualificada, barata e instável. Por outro lado, a sua aplicação : ·
Não
permite a qualificação e o aperfeiçoamento da mão-de-obra : ·
Procura
impedir o contato e a comunicação entre os operários e inibir a sua
organização : ·
Mantém
baixos os salários individuais ( não necessariamente o total de salários
) ·
Induz
a rotatividade da mão-de-obra : A
rotização era exatamente o oposto do que estava ocorrendo em outros países,
especialmente no Japão, naquilo que diz respeito a novas formas de
organização do trabalho. Esse mesmo quadro, se comparado ao que se via
na Coréia, revela a omissão da nossa engenharia, cuja função podia
ser resumida apenas a estabelecer as condições mínimas necessárias
para que o trabalho pudesse vir a ser realizado. A
partir do início dos anos 90, esse quadro muda substancialmente e
colocam-se novas demandas sobre os trabalhadores, como : a)
crescente importância da organização em grupos de trabalhos ; b)
retirada, ao menos parcial, de postos de controle de qualidade, e
crescente delegação de normas e procedimentos de inspeção de
qualidade aos operários, com a utilização de auditorias internas ; c)
introdução de CEP- Controle Estatístico de Processo, para o
qual os operários elaboram cartas de controle ; d)
responsabilização por detecção e solução de problemas, os
trabalhadores participam de atividades de pequenos grupos ou então
contribuem com sugestões individuais para diagnóstico e correção de
problemas ou mesmo para o contínuo aperfeiçoamento do processo de
produção ; e)
preparação e ajuste de equipamentos, justificados pela mudança
de partes ou produtos, ou correções justificadas a partir dos
resultados das atividades anteriormente descritas ; f)
decisões sobre o fluxo produtivo especialmente quando há a
utilização do JIT : g)
rodízio de atividades, em algumas fábricas a mão-de-obra, em
seu todo ou em parte, é treinada para trabalhar em diferentes postos ; h)
responsabilização por atividades de manutenção rotineiras; Para
obter envolvimento e participação da força de trabalho – que
possibilita maior utilização dos seus conhecimentos e habilidade
- as empresas estão
alterando as suas políticas de gestão. Visando a estabilização e
capacitação da mão-de-obra. Políticas de treinamento estão voltadas
à preparação dos operários para a aplicação das novas técnicas,
assim como para torná-los polivalentes.
OBS
: O que estamos observando de maneira geral, e em particular no caso
brasileiro, é uma lenta, talvez traumática, mas consistente convergência
para essa nova forma de pensar a organização do trabalho na produção.
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